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Gestão de Crise para o Turismo Nacional

Atualizado: 28 de jan. de 2021

"Menos Brasília mais Realidade"

Há muitas dúvidas, riscos e incertezas em pauta para a sociedade, o que dificulta o exercício de pensar e discutir o Turismo em um cenário crescente de contaminações e mortes por Covid19.

No momento em que escrevo, Belo Horizonte, cidade onde vivo, inicia a retomada gradual de atividades econômicas após quase 70 dias de isolamento social devido à pandemia. Mas o fato é que a atividade turística, setor estratégico para o desenvolvimento do país, foi atingida em cheio pela pandemia, com efeitos sobre empregos, renda, tributos e entrada de divisas internacionais.

Por isso é necessário discutir de maneira séria a realidade, os possíveis cenários e ações mandatórias para a sobrevivência do setor de turismo nacional.

Realidade

As Atividades Características do Turismo (ACT’s) são o conjunto de atividades que contemplam a maior parte dos gastos dos turistas e divididas em 8 grupos: Alojamento, Alimentação, Agências de Viagem, Transporte Aéreo, Transporte Terrestre, Transporte Aquaviário, Aluguel de Transporte, Cultura e Lazer.

A simples leitura desta lista de atividades já permite imaginar a dimensão do impacto sobre o setor. Quase todas estas atividades tiveram reduções altíssimas em sua capacidade de atuação e faturamento.

O impacto econômico é humanizado quando pensamos que em 2019, segundo estudo da CNC, havia 2,9 milhões de trabalhadores(as) no setor, sendo 67% nas atividades de hospedagem e alimentação.

Já em maio de 2020, pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) indica a demissão de 1 milhão de trabalhadores(as) formais desde março.

Simultaneamente, o IBGE informa que a taxa desemprego bate os 12,6% da população, atingindo 12,8 milhões de pessoas e, ainda, que houve fechamento de 4,9 milhões de postos de trabalho.

Cenários Previstos As dúvidas são muitas e certezas poucas. Como disse o primeiro ministro britânico Boris Johnson, “este é um inimigo que nós não entendemos completamente” e, portanto, é difícil propor cenários com absoluta certeza.

A Organização Mundial do Turismo prevê que as chegadas de turistas este ano pelo mundo podem reduzir de 60% a 80%, o que representaria um trânsito inferior em 850 milhões a 1,1 bilhão de pessoas ao redor do mundo em relação a 2019.

Ainda segundo a OMT, as perdas de receitas geradas pelo turismo podem ser de US$ 910,00 bilhões a US$ 1,2 trilhão. Esse cenário coloca em risco até 120 milhões de empregos diretos em Turismo.

A realidade da atividade turística é dura e o cenário projetado é desafiador para os países e empresas mais bem administrados do mundo, o que se dizer então para o Brasil.

No Brasil, o futuro da atividade pode ser ainda pior. A realidade de um sistema de saúde que opera frequentemente no limite e com recursos escassos, piora quando prejudicada pela confusa gestão pública do setor em âmbito federal.

Em âmbito municipal, boa parte dos destinos mais procurados do país tem redes de saúde precárias, fato que, em um novo normal, integrará o processo de avaliação e decisão de viagens.

Some-se a isso violência, infraestrutura deficitária, epidemias locais e recorrentes, perda de renda do brasileiro e serviços combalidos em sua capacidade e atuar e teremos uma receita pronta de falência setorial. 

Não fosse o suficiente, assusta ainda mais vermos o atual Ministro do Turismo demonstrar desconhecimento e distanciamento absurdos do terrível momento vivido pelo setor.

Nada poderia estar mais longe das necessidades do Turismo do que a discussão sobre liberação de cassinos, vista na famigerada reunião ministerial.

Vê-se um claro descolamento entre os objetivos do órgão e a realidade do setor.

Se o Ministro e seus assessores, distantes em Brasília, tivessem alguma proximidade com a atividade turística real, olhariam com mais atenção para consequências já em curso como: - Imprevisibilidade de retomada de fluxos de viajantes; - Queda brutal de receitas das empresas de turismo e hospitalidade; - Fechamento de micro e pequenas empresas (maioria absoluta no rol de empresas do setor). - Desemprego e desmobilização de profissionais qualificados; - Queda na arrecadação em âmbitos municipal, estadual e federal.

Se o ministro houvesse colocado em pauta questões como as acima, talvez seria possível iniciar um plano coerente para a retomada do setor.

Do ponto de vista social, o auxílio emergencial chegou a um grande contingente de pessoas, mas não é suficiente para a manutenção de despesas de famílias e empresas. Além disso, muitos profissionais do Turismo não são eletivos ao auxílio devido aos limites impostos pelo programa de auxílio, o que não faz destes isentos da necessidade de renda.

Profissionais, microempresários e empreendedores individuais nas figuras de guias, condutores, motoristas de vans e ônibus turísticos, pilotos de barcos e buggys, recepcionistas, camareiras, agentes de viagens, cozinheiros, garçons, chef’s, e autônomos diversos foram desprovidos de aproximadamente 3 meses de sua renda de maneira abrupta.

Acrescente-se a informação do Sebrae de que 86% das microempresas que buscaram crédito não tiveram êxito em sua solicitação, até este mês de maio.

Uma resposta possível O Ministério do Turismo deveria adotar a postura de um gabinete de crise que possa compreender e responder as necessidades do setor com agilidade.

Para tanto seria necessária a integração entre Ministério, órgãos estaduais e municipais, com o setor privado de turismo. Abrir a gestão institucional ao diálogo e participação dos atores do turismo.

A proposta de diálogo pode parecer utópica levando-se em conta a dimensão do nosso país, mas o Ministério possui uma ferramenta que permitiria sua execução.

O Cadastur, Sistema de cadastro de pessoas físicas e jurídicas que atuam no setor de Turismo, possui um banco de dados de profissionais e empresas dos 26 estados e Distrito federal. Este sistema poderia ser utilizado como um canal de comunicação com quem está na ponta da atividade, seja em Manaus, Porto Seguro, Bonito, Gramado ou Ouro Preto, vivendo a perda de renda, ausência de perspectivas e zero previsibilidade para seus negócios.

A coleta de dados junto a atores do turismo em todo o Brasil permitiria a organização, avaliação e geração de informações relevantes, caracterizando e mapeando a atividade profissional em Turismo. O trabalho analítico fundamentaria a adoção de ações condizentes com as necessidades particulares de estados, regiões, cidades e grupos de profissionais, dentre outras possibilidades. 

Somente a clara compreensão da crise que o Turismo enfrenta, poderá levar a tomadas de decisões efetivas para superarmos o que ainda está por vir.

Talvez a obsessão do Ministro por cassinos dê a impressão de que o Turismo no Brasil esteja à própria sorte.

Precisamos mudar esta realidade.



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